Dr. Rodrigo Terças: o padeiro que se tornou juiz


Rodrigo Terças: Tenho a crença de que o juiz não deve ficar isolado em seu gabinete, deve o mesmo prestar contas de sua atividade aos jurisdicionados e participar de atos e da vida da sociedade a qual esta inserido, contribuindo com sua experiência, conhecimento e, até mesmo, com sua influência, para aglutinar as instituições na solução dos conflitos sociais.

No Ser Juiz desta sexta-feira(26/6), toda a espontaneidade de Rodrigo Terças. “De entregador de pães a magistrado, como brincam familiares e amigos, passando pelos cargos de auxiliar administrativo, oficial de justiça e analista judiciário do Tribunal de Justiça, bem como analista judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Considero-me um juiz servidor, que enxerga nos servidores verdadeiros colegas e amigos unidos em prol da sociedade e do jurisdicionado, que são nossos verdadeiros patrões”.

Confira a entrevista:

QUEM É O HOMEM RODRIGO TERÇAS?

Sou um ludovicense de 35 anos, temente a Deus e apaixonado pela família e pelo trabalho. Filho de um pai que, com o segundo grau incompleto e pouquíssimas condições financeiras, conseguiu, com muito esforço e sacrifício, formar sua esposa e seus três filhos. Sou filho de uma senhora muito especial que, como muitas nesse nosso país, conheceu a maternidade cedo e acabou deixando o conforto de sua família de classe média e os estudos, para criar seus filhos e, já os vendo crescidos, mostrou garra novamente voltando a estudar e colando grau em pedagogia.
Em resumo me considero uma pessoa humilde que sabe separar o “juiz Rodrigo” do “Rodrigo cidadão”. Não levo a toga para fora do fórum e as pessoas mais próximas, assim como alguns populares nas ruas de Tutóia, falam que, quando estou fora do trabalho, nem pareço que sou o juiz. Fora isso, desde cedo sempre me preocupei em resolver os problemas dos outros, dar conselhos e intervir em confusões ou participar de decisões, seja no âmbito familiar, dos amigos e dos demais empregos que tive, algo que ainda trago comigo e que se reflete muito na minha vida profissional.
Sou agitado, meio torrão e teimoso, porém, sou sincero, estudioso, trabalhador, brincalhão, amigo e muito romântico. Por conta das dificuldades passadas, assim como acontece em muitas famílias brasileiras, tive que amadurecer rápido e começar a trabalhar cedo, desde os 16 (dezesseis) anos, acordando às 05h, juntamente com meu irmão do meio, para fazer entrega de pães e, mesmo assim, continuar a estudar muito, como compromisso pessoal e para com meus pais. Aprendi, como lição principal, que o esforço e o estudo, como sempre diziam meus pais, são as molas propulsoras que impulsionam para um caminho de mudança e sucesso.  

QUEM É O JUIZ RODRIGO TERÇAS?

De entregador de pães a Magistrado, como brincam familiares e amigos, passando pelos cargos de auxiliar administrativo, oficial de justiça e analista judiciário do Tribunal de Justiça, bem como analista judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Considero-me um juiz servidor, que enxerga nos servidores verdadeiros colegas e amigos unidos em prol da sociedade e do jurisdicionado, que são nossos verdadeiros patrões. Não costumo reclamar do volume de trabalho, em que pese os problemas estruturais e a crescente judicialização dos conflitos, pois além de gostar muito de trabalhar, procuro sempre exercer minhas funções judicantes e sociais com afinco e sempre prestando contas à sociedade, assim como prestava contas aos meus superiores hierárquicos.

ESSA EXPERIÊNCIA COMO SERVIDOR CONTA NA SUA ATUAÇÃO?

Com certeza. Conhecer o Judiciário internamente e a forma de movimentação da máquina, pois iniciei carimbando papel e fazendo serviços administrativos, até alcançar os demais cargos, permitiu-me ter conhecimento do todo e visualizar a movimentação e caminhos pelo qual o processo vai passar, bem como sopesar os impactos e efeitos de cada decisão por mim prolatada. Consigo pensar logicamente e estabelecer fluxos que compartilho com os servidores, bem como entender os gargalos em impedem a rápida tramitação e tentar estabelecer caminhos que permitam entregar a jurisdição de forma mais rápida, tanto que nesses três ano e meio de Tutóia, já prolatamos praticamente 5000 (cinco mil) sentenças, conforme dados do Themis. Essa experiência, ademais, me torna mais humano e possibilita-me entender cada reclamo do servidor e do jurisdicionado, bem como sempre estar aberto a sugestões e críticas. Posso dizer que, de tudo o que passa dentro de uma unidade judicial, da secretaria às ruas, com os oficiais de justiça, até as funções de gabinete, aprendi um pouco e isso sempre ajuda no exercício da profissão, pois, do juiz, tem se exigido, além da função judicante, uma postura de gestor e administrador.

POR QUE ESCOLHEU O DIREITO?

Essa é uma história engraçada. Eu dizia que nunca faria Direito e até ficava zangado com um padeiro, que trabalhava na mesma padaria que eu, e dizia que eu tinha cara de quem faria Direito e, por conta disso, não sei o porquê, ficava enchendo minha paciência, tanto que enveredei pelo caminho da informática me formando no curso técnico de programação pelo antigo Cefet-MA. Aí que vem a questão! Trabalhando como instalador de internet tive a oportunidade de conhecer diversos advogados e juízes, com quem tive o prazer de conversar em cada visita técnica, o que despertou-me um enorme interesse em cursar Direito.
Sei lá, pra quem não queria nem falar sobre isso com o amigo padeiro... posso dizer que me apaixonei pela área nessas visitas, razão pela qual resolvi prestar vestibular, tendo sido aprovado na quarta vez, ocasião em que pude perceber que havia nascido para isso e que, ser magistrado seria um caminho inevitável a ser seguido em razão da minha experiência como servidor e minha história de vida. Hoje eu entendo o que disse o juiz Jorge Adelar no seu texto “Como ser um bom juiz” e o desembargador do TJRN Caio Alencar em seu texto “Juiz Nasce Juiz. Ninguém se faz Juiz”, pois a pessoa que alcançará o cargo, já nasce juiz e isso se constata na pratica de atitudes inerentes a essência do julgador durante a sua vida, mesmo que não perceba. Em resumo, a aprovação no concurso acaba por ser apenas a efetivação dessa vocação. Desse modo posso dizer que não escolhi o Direito, mas nasci para estudá-lo e exercê-lo.

PARA VOCÊ, O QUE REPRESENTA A MAGISTRATURA?

Sou suspeito em responder a esta pergunta. Não por hoje ocupar um cargo de magistrado, mas pelo fato de amar o Poder Judiciário como um pai que teve a oportunidade formar seu filho dentro dos cargos oferecidos em sua estrutura. Desde carimbar papéis, como dito antes, a hoje julgar, como magistrado. Para mim, a Magistratura representa, principalmente num país como o nosso, acometido do mal da corrupção e do desmando para com os mais necessitados, a última esperança em probidade, retidão e capacidade em se fazer respeitar a constituição e as leis, assegurando direitos que deveriam ser garantidos por todas as instituições.
Nesse contexto, abraçar a magistratura significa, além de um sacerdócio, uma luta constante contra a estrutura de um país que se alicerçou nessa malfada corrupção, a fim de garantir o direito de quem está sofrendo alguma lesão ou ameaça de lesão. É por fim, ter a consciência de sua obrigação de julgar as más atitudes do homem, seja quem for, e não a pessoa deste, que, diga-se de passagem, terá um julgado próprio perante Deus.

EM QUAL COMARCA ESTÁ NO MOMENTO E HÁ QUANTO TEMPO E POR ONDE PASSOU?

Desde Juiz Substituto, tive o prazer enorme de passar por comarcas desafiadoras como Timon, Itapecuru-Mirim e Tuntum, sendo titularizado em Tasso Fragoso e, em seguida, removido por merecimento para Tutóia, onde estou há aproximadamente três anos e meio.

ALÉM DA FUNÇÃO JUDICANTE, QUE AÇÕES DESENVOLVE NA COMARCA?

Tenho a crença de que o juiz não deve ficar isolado em seu gabinete, deve o mesmo prestar contas de sua atividade aos jurisdicionados e participar de atos e da vida da sociedade a qual esta inserido, contribuindo com sua experiência, conhecimento e, até mesmo, com sua influência, para aglutinar as instituições na solução dos conflitos sociais. Esse papel de juiz cidadão e mais humanizado reputo de extrema importância no contexto atual, mormente quanto à necessidade de aproximar-se cada vez mais o Poder Judiciário da população. Em Tutóia, realizo audiências públicas anuais de prestação de contas sobre as atividades da comarca, além de colher críticas e sugestões para o aprimoramento dos serviços.
Além disso, participo de palestras em escolas e eventos com jovens e criança sobre o ECA, abuso sexual, entre outros temas. Da mesma forma, participo de audiências públicas relacionadas a segurança pública com a sociedade. Por derradeiro, apoiamos três projetos interessantíssimos que envolvem crianças em Tutóia e que permitem que estas tenham maior aproveitamento escolar e se envolvam com atividades como o esporte e a música.

COMO VÊ A ATUAÇÃO DO JUDICIÁRIO NESTA COMARCA?

Vejo o Judiciário na Comarca de Tutóia como uma instituição muito respeitada e que tem cumprido o seu papel e muito disso se deve ao esforço de todos os servidores e a transparência dada sobre os serviços prestados. Ademais, tal prestígio do Judiciário pode ser refletido no crescente número da distribuição o que exige, hoje, a elevação da comarca para intermediária, já que abrange mais de 60 mil habitantes, possui o maior comércio da região e três instituições financeiras ativas, além de ser a porta de entrada turística do Maranhão, em razão das belezas naturais, da Rota das Emoções que liga o Ceará aos lençóis maranhenses.
COMO CUIDA DA SAÚDE?
Antes de ingressar na magistratura era adepto à corrida de rua e me exercitava frequentemente, porém, com a vida de juiz Substituto e o compromisso nas comarcas por quais passei, acabei por deixar de lado o cuidado com a saúde, o que já estava causando-me alguns problemas. Graças a minha esposa e ao esforço pessoal voltei à atividade física, há um ano e quaro meses, frequentando academia, mesmo após a extenuante jornada de trabalho, bem como a ter acompanhamento nutricional. Passei a entender que nosso corpo funciona como uma máquina que precisa ser cuidada e revisada e, assim, tenho tentado agir. Posso confessar que além de uma qualidade vida pessoal esse cuidado também se reflete na minha vida profissional para aguentar horas em audiências e um terceiro turno prolatando decisões. Estou muito feliz com isso!

CAMINHO PARA O SUCESSO É?

Aprendi nessa vida que não existe concorrência que nos impeça de chegar a algum lugar, a não ser aquela imposta por nós mesmos. Pude perceber nesse trilhar de 35 (trinta e cinco) anos que o sucesso se sustenta sob três pilares essenciais, quais sejam: estudo, dedicação e insistência.

HOBBY?

Atualmente, isso é muito legal, podem até rir, mas brincar de boneca com minha filha de três anos ou retroceder a minha idade de bebê para fingir ser seu filhinho tem sido umas das atividades que mais vem me causando prazer. Acredito que cada fase da vida dela me traz algo de novo e tento aproveitar ao máximo quando estou próximo. No mais, sou extremamente apaixonado em conhecer lugares novos. Adoro viajar e ter a sensação de liberdade e poder fazer certas bobagens sem ter vergonha por ter a falsa sensação de não ser reconhecido.  Como exemplo, posso citar uma queda de patins na famosa pista de gelo do Rockfeller Centrer, em Nova Iorque, onde todos, digo todos, sorriram de mim e minha linda esposa me levantando e sorrindo também dizia: “tu és doido mesmo, nunca patinou nem com quatro rodinhas... ainda bem que sou eu te conheço aqui”...

LIVRO PREDILETO?

Como todos falam, a pergunta é difícil de responder, porém posso citar a Arte da Guerra, de Sun Tzu, em face dos ensinamentos sobre liderança e estratégia, bem como Amor Além da Vida, de Richard Matherson, pois o livro traz a história de um amor que vence a morte e, como homem apaixonado por sua esposa, não titubearia em momento algum em dar minha vida em troca da dela.

FILME QUE MAIS GOSTA E POR QUÊ?

Tenho dois filmes que sou, poderia dizer, viciado. O primeiro é Coração Valente, que retrata a força do homem pela luta de seus ideais e na mudança do status quo da sociedade a qual está inserido em busca da liberdade. A cena de sua tortura e morte e a relutância em manter seu ideal gritando: liberdade, ao final, até hoje me arranca lágrimas. O Segundo é Em Busca da Felicidade, cujos pilares estudo, dedicação e persistência são muito bem retratados para a mudança de vida de um pai que não tinha mais nem onde morar com seu filho. Lembro-me que, quando bem mais jovem, minha mãe pediu que fosse ao encontro de meu pai que estava chorando no quintal de casa e, lá pude perceber ao conversar com ele, que o motivo daquele choro era justamente o fato de que não podia mais nos pagar um colégio particular e que iríamos para a escola pública. Faço sempre essa correlação ao ver o filme já que também reputo este episódio como definidor de toda a minha vida como bom aluno e, por conseguinte de futuro profissional.

MANIA?

Incomodo-me com duas em especial, quais sejam, ser perfeccionista, herdada de minha mãe, e querer resolver tudo, mesmo quando não dá, o que herdei do meu pai.

O MELHOR DA VIDA É?

Ser feliz. Sempre desejo isso a todos, pois se assim estamos é sinal que tudo vai bem, mesmo parecendo que não esteja. No mais, poder deitar a cabeça no travesseiro com a consciência limpa e com o sentimento do dever cumprido não tem preço.

FAMÍLIA É ?

Pra mim, tudo! É a minha razão de existir, a fortaleza e o incentivo para continuar o trilhar da minha existência.

O QUE VALORIZA NOS OUTROS?

A humildade, a retidão e a sinceridade.

O QUE NÃO GOSTA NOS OUTROS?
Não suporto pessoas preguiçosas, folgadas e, principalmente, corruptas.

SONHO?

Tendo respeito às lições de Deus, sonho passar pelo seu julgamento de forma positiva, haja vista que serei julgado como julguei e na medida em que julguei.  Espero deixar nessa terra apenas bons frutos e, ao olhar para traz, ver que tive uma vida feliz e pude contribuir para que outros também tivessem.

       
Fonte: Da redação (Justiça em Foco), com TJMA. via blog do Neto Pimentel

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